ALÉM DO BEM E DO MAL
Além do Bem e do Mal – Prelúdio a uma filosofia do futuro, em
alemão Jenseits von Gut und Böse -
Vorspiel einer Philosophie der Zukunft, foi lançado em 1886 numa edição de
apenas 300 exemplares financiados pelo próprio Nietzsche. Conta a história que
esta obra, antecessora de A Genealogia da
Moral, foi recusada por vários editores até que Nietzsche resolveu
publicá-la por conta própria. Como de praxe, esta também é uma obra que gerou
polêmica principalmente por questionar “verdades” sociais profundas. Mas vamos
levar em conta que, se ainda hoje, pleno século XXI, o tema discorrido no livro
ainda causa espanto e inquietação, imagine há 131 anos atrás....
“Quanta
verdade suporta, quanta verdade ousa um espírito? Cada vez mais tornou-se isto
para mim a verdadeira medida de valor. Erro (a crença no ideal) não é cegueira,
erro é covardia. ” [1]
No
texto sobre A Genealogia da Moral,
vimos que não existe uma moral universal, mas sim uma moral em função do lugar
e período histórico no qual ela foi concebida e que, além disto, ela é ditada
por um senhor da moral com o intuito de controlar o comportamento de um
determinado grupo. Por fim, chegamos ao ponto em que houve uma transvaloração
dos valores superiores provocada pela classe religiosa.
Para Nietzsche,
a religião contribuiu fortemente para a criação de valores que limitam e
impedem os homens de se auto-superarem. Quer ver como? Vamos seguir o seguinte raciocínio:
Para
iniciarmos vamos nos fazer as seguintes perguntas: Onde está a gênese dos
valores? Quem quer o bem? O que quer aquele que diz “isso é bom”?
Religiosamente,
os homens ditos “virtuosos”, são os obedientes, generosos, castos, justos,
diligentes... Daí o conceito de “bem” ou “bom” surge como algo que traz benefícios ao meio no qual este
indivíduo “virtuoso” está inserido. O
que por sua vez significa que o homem “virtuoso” gasta as suas energias e
forças vitais na promoção e evolução alheias. E essa cultura da moral começa a
ficar pesada demais para ser carregada junto com seus deveres, leis e
responsabilidades. E então, para este indivíduo “virtuoso”, tem-se início uma
guerra interna de instintos que culmina na formação de uma má consciência. Como
consequência disto temos o surgimento do cidadão acomodado, conciliado, vão e
cansado.
“Esse animal
que querem ‘amansar’, que se fere nas barras da própria jaula, este ser
carente, consumido pela nostalgia do ermo...” [2]
E a doença da
má consciência começa a internalizar todos os instintos deste indivíduo,
gerando uma interiorização deste homem que acaba por ver a vida com rancor,
como uma mentira. Essas forças voltam-se contra si mesmas e se transformam em
dor, que por sua vez, se transforma em culpa. E então o homem “virtuoso” começa
a sofrer da falta de sentido para a sua dor e incômodo.
“O que revolta
no sofrimento não é o sofrimento em si, mas a sua falta de sentido.” [3]
A quem
interessa isso? A quem domina, ao senhor da moral. Aquele que é capaz de seguir
seu próprio caminho. E porque o homem “virtuoso”
se sujeitaria a tal? Bom, primeiro para não ser taxado de imoral perante o
restante do rebanho e segundo porque isso seria uma espécie de barganha com os
deuses em troca de uma vida eterna e feliz no paraíso... Já sabemos que
Nietzsche divergia veementemente desta ideia de paraíso pós-morte e, portanto, chegamos
à conclusão de que não é de se admirar que a “virtude” seja tão altamente
louvada nos outros...
O sentimento/comportamento
de senhor ou escravo da moral pode ser visto como algo que existe em todos os
seres humanos e pode ou não ser balanceado em um mesmo individuo.
Ao final, todo
este mal-estar na civilização, sentido pelo escravo da moral, vai culminar no niilismo segundo Nietzsche.
Além do Bem e do Mal traz a ideia de transcender
nossos valores, de observar o mundo sem classificar as coisas como boas ou más,
de aprender com elas como elas se revelam.
A quem
interessar, o final do livro traz um poema intitulado “Das Altas Montanhas”. E
apenas a título de curiosidade: Nietzsche também era compositor!! Segue link...
Das Altas Montanhas
“...O mundo ri, a cortina se
rasgou / A luz na obscuridade se uniu. ”
Até o próximo texto! 🙋
Renata Chinda- rechinda@gmail.com
Até o próximo texto! 🙋
Renata Chinda- rechinda@gmail.com
[1] Ecce Homo, Prólogo §3
[2] A Genealogia da Moral, 2ª
dissertação, § 16
[3] A Genealogia da Moral
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