VONTADE DE POTÊNCIA



Vontade de Potência, do alemão ‘der wille zur macht’, às vezes também pode ser encontrada traduzida como vontade de poder. Eu, particularmente, acredito que segundo o sentido no qual empregamos as palavras ‘potência’ e ‘poder’ na língua portuguesa, a tradução mais adequada é Vontade de Potência (VdP). 

A VdP é um conceito puramente nietzschiano e segundo o próprio autor:

“...não é um ser, não é um devir*, mas um pathos  - ela é o fato elementar de onde resulta um devir, uma ação..." [1] *devir = só a mudança é permanente =]

Trazendo para uma linguagem mais próxima, poderíamos pensar da seguinte maneira: enquanto na Física a potência é a capacidade de realizar trabalho, na Filosofia a VdP seria a capacidade que a vontade tem de efetivar-se, ou seja, é aquilo que quer na vontade.

Este conceito, segundo Nietzsche, é intrínseco a tudo. Está presente desde reações químicas, divisões celulares até a psique humana! E é justamente no ser racional que a VdP se manifesta de maneira mais intensa.

“O mundo visto de dentro, o mundo determinado por seu caráter inteligível’- seria justamente ‘vontade de potência’, e nada mais.”[2]

"Se se aceitar a concepção mecanicista do mundo, a 'vontade de potência' pode também ser aceita como o móvel do inorgânico." [3] 

Assim, a VdP seria como uma energia em expansão e em constante movimento que culminaria numa ação de efetivação de um movimento de auto-superação da própria vida, do domínio de si mesmo, um esforço de sempre alcançar mais potência. O que nos leva também a observar a insaciabilidade desta vontade, uma vez que ela constante! E ela é constante justamente porque resulta num devir e numa ação, é atividade, é crescimento ininterrupto.

"Um pequeno obstáculo é suplantado, mas imediatamente segue-se outro que também é suplantado - esse jogo de resistências e vitórias estima ao máximo o sentimento geral de potência." [4]

A VdP é também uma luta de tensões, visto que para o crescimento se faz necessário a assimilação de forças menores. Um exemplo simples: o desejo da superação do medo de altura pode ser visto como a assimilação das forças que causavam este medo e que depois de assimiladas pelo desejo de superá-las tornam-se uma só, tornam-se a superação somada à assimilação destes medos menores. Portanto torna-se algo maior e mais forte que as forças menores que causavam este medo. Bacana, né?! J É como se tivéssemos intrínsecos a nós uma força nata que se projeta para além de si mesma para alcançar a auto-superação.

Isso significa que apropriando-se da sua VdP o homem é capaz de criar valores, fazer experimentações, estabelecer novas hierarquias, ultrapassar os valores de seu tempo, dar mais um passo na direção do Ubermensch! E como se consegue isso? Sendo ativo no meio em que se vive, intensificando a vida, ligando-se de forma intensa ao mundo. Ok! E como se consegue isso (2)? Amor fati! Aceitando o devir, aceitando as mudanças, amando o que acontece.

E então a VdP torna-se plena de si: ela amplia-se e vai-além, transborda, cria, compõe, inventa, constrói! Num nível superior a VdP torna-se generosidade, vontade de consciência, vontade da própria existência.

Ahhhh, este texto poderia ser bem mais longo.... A Vontade de Potência implica em inúmeros desdobramentos de ideias sobre as concepções de conceitos modernos e antigos que formam a base da sociedade na qual vivemos. Mas por hoje está de bom tamanho. Fechamos com Zaratustra! 

“Querer liberta: eis a verdadeira doutrina da vontade e da liberdade – assim Zaratustra vos ensina” [5]

Então “queira, basta ser sincero e desejar profundo, você será capaz de sacudir o mundo!” Queira e aproprie-se da sua Vontade de Potência para a auto-superação.

Amor Fati -> Intensificação da vida -> 
Apropriação da Vontade de Potência ->Auto-Superação

Até o próximo texto! 🙋  
Renata Chinda- rechinda@gmail.com

[1] Vontade de Potência – aforismo 242
[2] Além do bem e do mal – aforismo 36
[3] Vontade de Potência – aforismo 64
[4] Vontade de Potência – aforismo 248
[5] Assim Falava Zaratustra  

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